quinta-feira, 14 de junho de 2012

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

Texto encaminhado pela Ana Marcelino - UEB/RN


COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA
Em 2003, em Lausanne, na Suíça, o pai da Comunicação Não Violenta definiu-a assim: «Linguagem, pensamentos, técnicas de comunicação e meios de influência que estão ao serviço do meu desejo de fazer três coisas:
·        libertar-me da aprendizagem cultural que está em conflito com a forma como eu quero viver a minha vida.
·        dar poder a mim próprio para me relacionar comigo e com os outros de uma forma que torne natural a dádiva compassiva.
·        dar poder a mim próprio com o intuito de criar estruturas que apoiem a dádiva compassiva. 
A Comunicação Não Violenta (CNV) ajuda-nos a mantermo-nos em contacto conosco próprios, com os outros, momento a momento, e com aquilo que gostaríamos de fazer (ou que alguém fizesse por nós), por forma a manter abertos os canais da empatia e da compaixão.Mantendo sempre a consciência dos obstáculos que podem surgir no caminho do processo natural do dar e receber 
A CNV fortalece a nossa capacidade de inspirar a compaixão nos outros e de responder deforma compassiva (quer a eles, quer a nós próprios). Conduz-nos a um reenquadramento da forma como nos expressamos, como ouvimos os outros e como resolvemos os conflitos, através de uma ênfase na consciência daquilo que estamos a observar, a sentir, a necessitar
e a pedir
A linguagem da CNV desperta a empatia e a honestidade e é muitas vezes referida como «a linguagem do coração» ou como «comunicação compassiva». O seu propósito é:
1. criar relações humanas que fortaleçam a compaixão no processo de dare receber;
2. criar estruturas governamentais e empresariais que apoiem esse processo compassivo de
dar e receber. 
A CNV envolve tanto ferramentas que alimentam o relacionamento e a consciência da interdependência do nosso bem-estar, como a utilização de um poder para com os outros a fim de conseguirmos cooperar em conjunto para que sejam satisfeitas as necessidades de todos.Esta abordagem à comunicação coloca a tônica na compaixão enquanto motivação para a ação, em vez de a colocar no medo, na culpa, na vergonha, na coação, na ameaça ou na justificação para a punição. Por outras palavras, trata-se de conseguir aquilo que pretendemos por razões das quais não nos venhamos a arrepender mais tarde.
 A Comunicação Não Violenta NÃO se trata de conseguir que os outros façam aquilo que nós queremos. Trata-se de criar uma relação de qualidade que satisfaça as necessidades de todos através de uma dádiva compassiva.O processo da CNV encoraja a que foquemos a atenção naquilo que tanto nós como os outros estamos a observar , distinguindo-o das nossas interpretações e julgamentos, a fim de ligar os nossos pensamentos e sentimentos às necessidades (ou valores)humanas subjacentes (por exemplo: proteção, apoio, amor), e sermos claros em relação àquilo que gostaríamos que fosse feito para ir ao encontro dessas necessidades. Estas ferramentas permitem-nos traduzir o criticismo, a culpa e a exigência para uma linguagem de necessidades humanas – uma linguagem da vida que, conscientemente, nos liga às qualidades universais que estão «vivas em nós», as quais sustêm e enriquecem o nosso bem-estar, e focam a nossa atenção no tipo de ações que poderíamos realizar para manifestar essas qualidades. As ferramentas da CNV irão ajudar-nos a lidar com os grandes entraves à comunicação, tais como as exigências, as análises e a culpa. Nas formações de CNV iremos aprender a expressarmo-nos honestamente sem atacar. Isto irá minimizar a probabilidade de enfrentarmos reações defensivas por parte dos outros. As ferramentas irão ajudar-nos a realizar pedidos claros. Irão ajudar-nos a receber mensagens críticas e hostis sem que as assumamos contra nós, sem que desistamos ou que percamos a autoestima. Estas ferramentas são úteis nas relações com a família,com os amigos, com os estudantes, com os subordinados, com os supervisores, com os colaboradores e clientes, bem como nos diálogos que mantemos conosco próprios.
FERRAMENTASDE CNV  
A CNV oferece ferramentas práticas e concretas para manifestar o propósito da criação de relações baseadas num dar e receber compassivo, baseadas na consciência da interdependência e do poder em relação os outros. Estas ferramentas incluem:1) Diferenciação entre observação e avaliação - sermos capazes de observar cuidadosamente aquilo que está a acontecer, livre de avaliação, e de especificar comportamentos e condições que nos estão a afetar; 2) Diferenciar sentimento de pensamento - ser capaz de identificar e expressar estados de sentimentos interiores, de forma a que não esteja implícito um julgamento, um criticismo ou uma culpa/punição;3) Ligarmo-nos às necessidades (valores) humanas universais (por exemplo: sustentabilidade,confiança, compreensão) que existem dentro de nós e que estão ou não estão a ser satisfeitas em relação àquilo que está a acontecer e da forma como nos estamos a sentir; e4) Pedir o que gostaríamos, de forma a que espeficiquemos claramente aquilo que queremos(mais do que aquilo que não queremos), e que seja verdadeiramente um pedido e não uma exigência (i.e. tentativa de motivar, ainda que subtilmente, através do medo, da culpa, da vergonha, da obrigação, etc., mais do que através da livre vontade e da dádiva compassiva).Estas ferramentas enfatizam a responsabilidade pessoal pelas nossas ações e pelas escolhas que fazemos quando respondemos aos outros, bem como a forma como contribuímos para os relacionamentos com base na cooperação e na colaboração. Com a CNV aprendemos a ouvir as nossas próprias necessidades e as dos outros, e a identificar e articular de forma clara aquilo que «está vivo dentro de nós». Quando nos concentramos em clarificar o que está a ser observado, sentido, necessitado e querido, mais do que avaliar e julgar, descobrimos a profundidade da nossa própria compaixão. Através da ênfase colocada na escuta profunda – para conosco próprios e para com os outros – a NVC alimenta o respeito, a

atenção e a empatia, e cria um desejo mútuo de partilhar do fundo do coração. A fórmula é simples, mas poderosamente transformadora.Baseada na tomada de consciência, na linguagem, nas técnicas de comunicação e na utilização de um poder que nos permite permanecermos humanos, mesmo sob condições adversas, a CNV não contém nada de novo: tudo aquilo que foi integrado na CNV é conhecido desde há séculos. O seu objetivo é recordar-nos aquilo que já sabemos – como nós,  seres humanos,  devemos nos relacionar uns com os outros – e ajudar-nos a viver de uma forma que demonstre, concretamente, este conhecimento. A aplicação da CNV não requere que a pessoa com quem estejamos a comunicar seja uma especialista em CNV, ou que esteja sequer motivada para se relacionar conosco de forma compassiva. Se nos mantivermos fiéis aos princípios da CNV, com a única intenção de darmos e recebermos compassivamente, e fizermos tudo o que estiver ao nosso alcance para que os outros entendam que esse é o nosso único motivo, eles irão juntar-se a nós no processo e, eventualmente,estaremos aptos a responder de forma compassiva um ao outro. Ainda que isto não aconteça rapidamente, a nossa experiência atesta que a compaixão, inevitavelmente, floresce, sempre que nos mantemos fiéis aos princípios e ao processo da Comunicação Não Violenta. A CNV é um modelo claro e efetivo de comunicar de uma forma que é cooperante,consciente e compassiva. As duas partes e as quatro componente da CNV:
Escuta empática:
observação
sentimento
necessidade
pedido
Expressão honesta:
observação
sentimento
necessidade
pedido

Os dois lados do modelo da CNV – escuta empática e expressão honesta – utilizam os quatro passos do modelo: observação, sentimento, necessidade e pedido.



MARSHALL ROSENBERG:psicólogo clínico norte-americano, nasceu em 1934, filho de pais judeus. A sua família mudou-se de Canton, Ohio, para Detroit, no Michingan, em 1943, uma semana antes de rebentarem os Motins raciais nesse ano. A partir dessa altura, e de um incidente na escola que levou à agressão de Rosenberg por ser judeu, ele tentou compreender por que é que algumas pessoas se mantém tão ligadas à sua natureza compassiva, mesmo em situações adversas,e por que é que outras pessoas cedem à violência.Viria a criar o Centro para a Comunicação Não Violenta, uma associação sem fins lucrativos cuja função é trabalhar para a divulgação e formação de Comunicação Não Violenta em todo o mundo.

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