Texto encaminhado pela Ana Marcelino - UEB/RN
COMUNICAÇÃO NÃO
VIOLENTA
Em 2003, em Lausanne,
na Suíça, o pai da Comunicação Não Violenta definiu-a assim: «Linguagem,
pensamentos, técnicas de comunicação e meios de influência que estão ao serviço
do meu desejo de fazer três coisas:
·
libertar-me da aprendizagem cultural que está em conflito com a forma
como eu quero viver a minha vida.
·
dar poder a mim próprio para me relacionar comigo e com os outros de uma
forma que torne natural a dádiva compassiva.
·
dar poder a mim próprio com o intuito de criar estruturas que
apoiem a dádiva compassiva.
A Comunicação Não Violenta
(CNV) ajuda-nos a mantermo-nos em contacto conosco próprios, com os outros,
momento a momento, e com aquilo que gostaríamos de fazer (ou que alguém
fizesse por nós),
por forma a manter abertos os canais da empatia e da compaixão.Mantendo sempre
a consciência dos obstáculos que podem surgir no caminho do processo natural do
dar e receber
A CNV fortalece a
nossa capacidade de inspirar a compaixão nos outros e de responder deforma
compassiva (quer a eles, quer a nós próprios). Conduz-nos a um reenquadramento
da forma como nos expressamos, como ouvimos os outros e como resolvemos os
conflitos, através de uma ênfase na consciência daquilo que estamos a observar,
a sentir, a necessitar
e a pedir
A linguagem da CNV
desperta a empatia e a honestidade e é muitas vezes referida como «a linguagem
do coração» ou como «comunicação compassiva». O seu propósito
é:
1. criar relações
humanas que fortaleçam a compaixão no processo de dare receber;
2. criar estruturas governamentais e empresariais
que apoiem esse processo compassivo de
dar e receber.
A CNV envolve tanto
ferramentas que alimentam o relacionamento e a consciência da interdependência
do nosso bem-estar, como a utilização de um poder para com os outros a fim de
conseguirmos cooperar em conjunto para que sejam satisfeitas as necessidades de
todos.Esta abordagem
à comunicação coloca a tônica na compaixão enquanto motivação para a ação, em
vez de a colocar no medo, na culpa, na vergonha, na coação, na ameaça ou
na justificação para a punição. Por outras palavras, trata-se de
conseguir aquilo que pretendemos por razões das quais não nos
venhamos a arrepender mais tarde.
A Comunicação Não Violenta NÃO se trata
de conseguir que os outros façam aquilo que nós queremos. Trata-se de
criar uma relação de qualidade que satisfaça as necessidades de todos
através de uma dádiva compassiva.O processo da CNV encoraja a que foquemos a
atenção naquilo que tanto nós como os outros estamos a observar , distinguindo-o
das nossas interpretações e julgamentos, a fim de ligar os nossos pensamentos e
sentimentos às necessidades (ou
valores)humanas subjacentes (por exemplo: proteção, apoio, amor), e
sermos claros em relação àquilo que gostaríamos que fosse feito para ir ao
encontro dessas necessidades. Estas ferramentas permitem-nos traduzir o criticismo,
a culpa e a exigência para uma linguagem de necessidades humanas – uma
linguagem da vida que, conscientemente, nos liga às qualidades universais que
estão «vivas em nós», as quais sustêm e enriquecem o nosso bem-estar, e
focam a nossa atenção no tipo de ações que poderíamos realizar para manifestar
essas qualidades. As ferramentas da CNV irão ajudar-nos a lidar com os
grandes entraves à comunicação, tais como as exigências, as análises e a
culpa. Nas formações de CNV iremos aprender a expressarmo-nos honestamente sem
atacar. Isto irá minimizar a probabilidade de enfrentarmos reações defensivas
por parte dos outros. As ferramentas irão ajudar-nos a realizar pedidos claros.
Irão ajudar-nos a receber mensagens críticas
e hostis sem que as assumamos contra nós, sem que desistamos ou que percamos a
autoestima. Estas ferramentas são úteis nas relações com a família,com os
amigos, com os estudantes, com os subordinados, com os supervisores, com os colaboradores
e clientes, bem como nos diálogos que mantemos conosco próprios.
FERRAMENTASDE CNV
A CNV oferece
ferramentas práticas e concretas para manifestar o propósito da criação de relações
baseadas num dar e receber compassivo, baseadas na consciência da
interdependência e do poder em relação os outros. Estas ferramentas incluem:1)
Diferenciação entre observação e avaliação - sermos capazes de observar
cuidadosamente aquilo que está a acontecer, livre de avaliação, e de
especificar comportamentos e condições que nos estão a afetar; 2) Diferenciar
sentimento de pensamento - ser capaz de identificar e expressar estados de sentimentos
interiores, de forma a que não esteja implícito um julgamento, um criticismo ou
uma culpa/punição;3) Ligarmo-nos às necessidades (valores) humanas
universais (por exemplo: sustentabilidade,confiança, compreensão) que
existem dentro de nós e que estão ou não estão a ser satisfeitas em relação
àquilo que está a acontecer e da forma como nos estamos a sentir; e4) Pedir o
que gostaríamos, de forma a que espeficiquemos claramente aquilo que
queremos(mais do que aquilo que não queremos), e que seja verdadeiramente um
pedido e não uma exigência (i.e. tentativa de motivar, ainda que subtilmente,
através do medo, da culpa, da vergonha, da obrigação, etc., mais do que através
da livre vontade e da dádiva compassiva).Estas ferramentas enfatizam a responsabilidade
pessoal pelas nossas ações e pelas escolhas que fazemos quando respondemos aos
outros, bem como a forma como contribuímos para os relacionamentos com base na
cooperação e na colaboração. Com a CNV aprendemos a ouvir as nossas próprias
necessidades e as dos outros, e a identificar e articular de forma clara aquilo
que «está vivo dentro de nós». Quando nos concentramos em clarificar o que está
a ser observado, sentido, necessitado e querido, mais do que avaliar e julgar,
descobrimos a profundidade da nossa própria compaixão. Através da ênfase
colocada na escuta profunda – para conosco próprios e para com os outros – a
NVC alimenta o respeito, a
atenção e a empatia, e cria um desejo mútuo de
partilhar do fundo do coração. A fórmula é simples, mas poderosamente
transformadora.Baseada na tomada de consciência, na linguagem, nas técnicas de
comunicação e na utilização de um poder que nos permite permanecermos humanos,
mesmo sob condições adversas, a CNV não contém nada de novo: tudo aquilo que
foi integrado na CNV é conhecido desde há séculos. O seu objetivo é
recordar-nos aquilo que já sabemos – como nós, seres humanos, devemos nos relacionar uns com os outros
– e ajudar-nos a viver de uma forma que demonstre, concretamente,
este conhecimento. A aplicação da CNV não requere que a pessoa com quem
estejamos a comunicar seja uma especialista em CNV, ou que esteja sequer
motivada para se relacionar conosco de forma compassiva. Se nos mantivermos
fiéis aos princípios da CNV, com a única intenção de darmos e recebermos
compassivamente, e fizermos tudo o que estiver ao nosso alcance para que os
outros entendam que esse é o nosso único motivo, eles irão juntar-se a
nós no processo e, eventualmente,estaremos aptos a responder de forma
compassiva um ao outro. Ainda que isto não aconteça rapidamente, a nossa
experiência atesta que a compaixão, inevitavelmente, floresce, sempre que nos
mantemos fiéis aos princípios e ao processo da Comunicação Não Violenta. A
CNV é um modelo claro e efetivo de comunicar de uma forma que é
cooperante,consciente e compassiva. As duas partes e as quatro componente da CNV:
Escuta empática:
observação
sentimento
necessidade
pedido
Expressão honesta:
observação
sentimento
necessidade
pedido
Os dois lados do modelo da CNV – escuta empática e expressão
honesta – utilizam os quatro passos do modelo: observação, sentimento,
necessidade e pedido.
MARSHALL ROSENBERG:psicólogo
clínico norte-americano, nasceu em 1934, filho de pais judeus. A
sua família mudou-se de Canton, Ohio, para Detroit, no Michingan, em 1943, uma semana
antes de rebentarem os Motins raciais nesse ano. A partir dessa altura,
e de um incidente na escola que levou à agressão de Rosenberg por ser
judeu, ele tentou compreender por que é que algumas pessoas se mantém tão
ligadas à sua natureza compassiva, mesmo em situações adversas,e por que é que
outras pessoas cedem à violência.Viria a criar o Centro para a Comunicação Não Violenta,
uma associação sem fins lucrativos cuja função é trabalhar para a divulgação e
formação de Comunicação Não Violenta em todo o mundo.
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